quinta-feira, 31 de julho de 2008

TEMPO, TEMPO, TEMPO, TEMPO



Não é o tempo que me aflige. Não fujo dele. Não!
Eu me derramo em seus braços e me deixo levar pelos seus ventos, pelas suas tempestades, pelos seus nortes e estações...
Eu me deixo marcar pelo seu lápis implacável e deixo que ele desenhe na minha pele o formato das horas, dos dias, da sua própria eternidade.
Eu me ponho nas mãos dele. Confio no tempo pois sei que ele é sábio.
Não o temo.

O que me aflige é tudo aquilo que fica pelo caminho, inevitavelmente.
Tudo o que fica pra trás, tudo o que eu perco enquanto ele passa.
No fim, sou mesmo como um planeta sendo dizimado aos poucos por mãos desatentas, invadido por olhos não mansos. Um planeta esvaziado, entrando em extinção. Com saudades de mim.
O que me aflige é ser assim tão descartável, tão finita. Tão inevitavelmente esquecível.
O que me dói é ver algumas coisas indo embora sem que eu quisesse.
(O meu medo é o medo de perder-te no tempo e nunca mais te encontrar. Medo que o tempo roube mais uma vez o que poderia ser nosso.)

Não. Eu não fujo do tempo. Sou amiga do tempo, acredite...
Embora ele me arranque as coisas às vezes. Eu o respeito. Eu o sinto.
Eu apenas desejo que meus pés sempre me levem para o melhor caminho possível.

Escolho as minhas estradas pelas cores de suas pedras, não pela sua extensão.

E enquanto sigo pela estrada que escolhi, quero mais é recolher a vida, derramada no chão, parte por parte, pelo caminho...
Porque um dia o tempo me arrancará isso também.
E eu escolho existir! No caminho, na vida, em ti... na eternidade!

Por Van Luchiari

segunda-feira, 14 de julho de 2008

mini (pseudo) guia de bolso do amor duradouro (ou não)


Você está ali, de bobeira e, de repente, pá - uma troca de olhares, um sorriso vai, outro vem, alguém ruboriza (a julgar pelas bochechas quentes, foi você), uma troca de telefonemas ou não, um jantar ou não um beijo ou não, não importa: é diferente, você tem certeza de que o amor chegou.

Reconhecer o amor não requer tanto tato e sagacidade. Amor não é vendido em frascos, não dá em árvore, não chega pelo correio. Não dá pra sacar amor no caixa eletrônico do shopping. Amor não vem com letreiro luminoso, não bate ponto na esquina e, muito menos, se identifica na portaria: amor chega sem avisar - e a gente sabe que chegou só de olhar pra ele. O mais difícil, no entanto, é mantê-lo. E, para isso, alguns insights, embora longe de serem infalíveis, são sempre bem vindos.

Quem decide embarcar precisa se certificar de que a viagem para o mundo dos sonhos inclui a passagem de volta; idealizar demais um relacionamento é invariavelmente a caminho mais curto para uma bad trip. Projetar no outro a responsabilidade pela própria felicidade afugenta até o mais bem-intencionado dos apaixonados – além do mais, ser de carne e osso inclui no pacote uma série de defeitos de fabricação e uma boa dose de imprevisibilidade. Cada ser indivíduo é potencialmente uma caixinha de surpresas. Ou de Pandora.

Ser fã do Smashing Pumpkins quando a outra metade da laranja iria a pé do Rio a Salvador por Bruno e Marrone necessariamente implica um fiasco amoroso? Claro que não! Vale lembrar que um dos casamentos mais sólidos desde tempos imemoriais – o da dupla feijão com arroz – é apenas um em meio a tantos casos de antíteses que se complementam. Se é verdade que os opostos se atraem, com os opostos dispostos essa máxima funciona melhor ainda. As diferenças, muitas vezes, estão longe de significar desavenças, bem como semelhanças podem não ser garantia de afinidades. Almas gêmeas nem sempre são univitelinas.

Importante, mas nem sempre valorizado: ignorar solenemente a famigerada família das conjunções adversativas – “mas”, “porém”, “contudo”, “todavia” e todos os outros parentes que impõem restrições. Amor não gosta de senões. Amor foge de senões como o diabo foge da cruz. Falando em cruz: qualquer chiclete que não seja uma adocicada borrachinha de mascar é um negócio pesado demais para carregar pela vida. É sexy, é encantador, é uma gentileza ser leve. Seja leve.

Beleza só é fundamental no poema. Se vem no pacote, ótimo. Senão, o ser humano vale mesmo pela “decoração de interiores” – o que não significa levar a vida como se ela fosse um exercício de autodestruição. É preciso zelo consigo mesmo: arrumar-se, perfumar-se, mimar-se. Descobrir-se para, então, revelar-se. Curtir-se. Amar-se pelo que se é – assim, será possível amar no outro o que realmente ele tem a oferecer ao invés de uma utopia. Também é interessante sublimar aquele arraigado hábito de interessar-se por “tipos”, quem tem tipo é máquina de escrever. Que, por sinal, virou peça de museu.

Sobretudo: amor e medo não combinam. Caiu? Levante, simples. A vida é correr riscos. Ninguém vem ao mundo com dispositivo anti-sofrimento. Amor é, sobretudo, querer amar. E, se chorar, faz parte, recomeçar também.